quarta-feira, 28 de agosto de 2013

1 semana de Europa (parte 1)

Depois de alguns pedidos 'por que nao escreves um blog???' (ui que importante!) e auto-constatacoes que perderia muito mais tempo no facebook e no e-mail, resolvi  finalmente escrever, para compartilhar ideias, novidades e experiências desse outro lugar do mundo. Até mesmo porque seria egoísmo guardá-las na memória apenas para mim, após ter recebido essa grande oportunidade e o apoio de muitos. Além de talvez, futuramente, compartilhar mais receitas, como tantas outras e outros também já me pediram, e igualmente acho ótimo fazê-lo por ser tao egoísta guardar só para mim as comidas um tanto ---diferentes--- que costumo fazer, usualmente indianas/vegetarianas. Ignore o design, ao menos, por enquanto, pois nao entendo nada. A grafia sem acentos deve ser também ignorada, por favor, pois nem sempre estou em teclado com todos eles aqui. 

Completei ontem, dia 27, uma semana nessa outra - e nova, para mim - parte do mundo. Saí na segunda, dia 19, pela manha, de Floripa, pra chegar em SP, lá esperar uma tarde toda mosqueando e lendo no aeroporto, para daí passar 12 horas no aviao e chegar no fim da manha de terca em Paris...um tanto cansativo, mas só o fato de chegar ao destino final já compensa :)
O voo estava cheio, tive a sorte de sentar na janela ao lado de um casal que falava espanhol mas lia em grego (igreja ortodoxa?), e de assistir filmes indianos numa mini tv que tem nesses voos...divertido, sobretudo quando lembrava de ter estar viajando sem pagar nada*. Uma sensacao única e similar de alegria ao ganhar ônibus para viagens acadêmicas ou eventos tipo JIUDESC, que faedianos sabem muito bem aproveitar.

No aeroporto, após toda a burocracia de mostrar passaporte etc., onde já pude ver a enorme diversidade de gente de todo o mundo, literalmente, chegando naquele país, encontrei Gabrielle, uma amiga parisiense que conheci durante meu ano na India e que muito felizmente me ajudou carregando malas por estacoes de metro. Ela mesma concorda que nao é fácil ter a amizade de um francês, mas quando a tens, ela é sincera. Espero que sim, ou acho que sim, ao menos, pois logo fui ao apartamento dela no bairro chamado Montmartre, um bairro alto da cidade, com vistas lindas. Demos voltas pela cidade, passamos um pouco de calor - ainda bem, foi ótimo poder andar de havaianas e poucas pecas de roupa após o frio de SC - e no outro dia comprei uma câmera, para as fotos que EM BREVE postarei aqui também**, já que nao tinha e aqui sao razoavelmente mais baratas que no Brasil.
Gabrielle e eu de cabelo de chapinha, maio de 2011. 

Dei umas voltas pela cidade, lotada de turistas, e pude ter mais nocao de como é estar nessa metrópole - tao cosmopolita, que é o que com certeza mais me chama atencao, sobretudo pelo grande número de pessoas de origem de vários países da Asia e Africa, pelas ruas e pelo metrô, alguns com trajes e estilos bem diferentes dos que costumamos ver no Brasil (muito bonitos, na minha opiniao), e também seus respectivos comércios em alguns bairros...acho que vao inclusive muito me ajudar na minha futura residência. Em menos de 2 dias pude ouvir vários idiomas, no entanto, tentei falar francês sempre que possível, para já praticar e para se prevenir, segundo aquele estereótipo que franceses nao gostem que falem inglês com eles.

Na quinta, porém, voltei ao aeroporto, desta vez, rumo à Noruega. Nao, minha bolsa nao é tudo isso, para simplesmente ir para um dos países conhecidos como mais caros do mundo. É que nesse país mora uma garota muuuuito amiga minha, também conhecida na India, de quem senti muita falta, e consegui uma dessas promocoes de passagens realmente em conta (que geralmente nao te permitem despachar bagagem pelo preco barato) que acontecem pela Europa - espero ter mais dessa sorte. Vim entao à cidade dela, Trondheim, na regiao central do país. É uma das maiores do país, mesmo sendo uma cidade menor que, por exemplo, Blumenau. Tanto que quando peguei um ônibus pra ir até a cidade e como nao sabia onde parar, pois nao entendo uma palavra de norueguês - que tem palavras gigantes como alemao - fiquei olhando pela janela no centro da cidade...e lá estava Lisa, essa minha amiga, em uma praca qualquer. Foi realmente ótimo vê-la novamente após tanto tempo e gritar que nem uma louca  na rua. Nao que isso aqui importante tanto: como ela mesma me disse, aqui a individualidade conta muito, e pude perceber facilmente, por exemplo, ao andar na rua e parar pra tirar fotos, ou sentar num banco qualquer sozinha a qualquer hora do dia, ninguém absolutamente me encara ou estranha, ou menos ainda me assedia, como infelizmente estou até acostumada. E pelo que vim a conhecer até entao, esse individualismo nao é extremado, por exemplo, a ponto de serem completamente indiferente ao outro, a meu ver: os noruegueses sao extremamente receptivos e simpáticos, interessados em saber mais sobre o Brasil, e como mesmo soube de três brasileiras que encontrei no fim de semana (uma delas é casada com o irmao do namorado da Lisa, e outra tem uma docaria, o que trouxe para a festa de aniversário desse irmao coisas como pudim e brigadeiro), no geral nao tendem ao preconceito com estrangeiros imigrantes.
Eu e Lisa em alguma dancinha ridícula no Natal de 2010, Índia. 
Essas brasileiras, muito legais também, relataram-me quando comentei de uma aparente ausência de desigualdades socioeconômicas - sério, todo mundo aqui parece viver muito bem, como poucos no Brasil teriam condicoes -, que elas existem, mas em grau muito reduzido, e mesmo o vizinho de uma, alguém extremamente rico, moraria do lado de outro muito mais simples, e nao o trataria diferente por isso. Achei realmente bem interessante. É impossível nao perceber essas diferencas: aqui é extremamente normal sair e deixar a porta destrancada - por dias, inclusive dormir desse modo. Vi muitas bicicletas apoiadas em postes ou bicicletários sem cadeados, e pessoas utilizam computadores e smartphones em locais públicos tranquilamente. Segundo a Lisa, crimes violentos sao quase nulos no país todo, e prisoes tem sido fechadas por falta de gente - e ela até riu, dizendo que prisoes sao melhores que alguns hotéis. Mencionando bicicletas, outra coisa me encantou, e sim, fez-me refletir o quanto é possível melhorar nosso sistema de transporte: aqui elas têm rotas próprias dentro e fora das cidades, ciclofaixas e ciclovias sao muito comuns, e quando elas nao existem, devem andar na calcadas, tomando cuidados com os pedestres claro, que por sua vez já também estao acostumados e se respeitam. E Trondheim, assim como outras cidades aqui, possui um sistema de bicicleta pública na regiao central, na qual um morador por ano paga apenas o equivalente a 30 reais (algo realmente barato para eles) e pode à vontade usar as bicicletas distribuídas em estacoes, para as quais devolve, e pode pegar de novo se depois quiser, ao fim do uso. De qualquer modo, penso que é comum aqui ter a sua própria, como é uma cidade universitária, vi bicicletários a todos os lugares e sempre cheios. Isso sem mencionar os ônibus: muito modernos, avisam o nome de cada próximo ponto pelo qual vai passar, passam em maior parte de 10 em 10 minutos, e custam por ano, para um estudante, algo em torno de 100 reais, com passe  ilimitado. Sim, é só preciso ser estudante e comprar esse cartao que pode-se usar quantas vezes quiser por dia, no ano todo. Nao é o passe livre, ainda, mas chega perto, dado que 100 reais pra eles nao é muito (um salário médio é de 6000 reais, e muitos ganham mais que isso). Uma ideia tao simples, que inclusive me fez mandar e-mail, inútil, claro, pois me ignoraram total, para uma empresa de ônibus de Floripa, a de ter em cada ponto de ônibus a informacao de quais linhas ali passam e quais os horários de cada, foi adotada aqui. Como se nao bastasse, em alguns pontos há inclusive letreiros eletrônicos dizendo em quantos minutos tal ônibus chegará, e isso pode ser acompanhado pela internet. Lisa e seu namorado, Andreas, que moram nessa cidade há pouco tempo em razao de terem se mudado pela universidade, comentaram que nao é tao sofisticado assim em toda a Noruega, mas se espantaram pelo fato de eu ter que pagar por cada passagem em minha cidade. Ou como lá tenho que fazer esforco para ser respeitada por um carro ou um ônibus ao atravessar a rua, pois aqui todos instantaneamente param se há qualquer um tentando fazê-lo, e isso já é tao normal para eles. Nao quero que isso, nem essas comparacoes tenham o ar de ´olha como no Brasil somos mal-educados e ignorantes´, mas como uma possibilidade de pensar na mudanca, às vezes mais fácil do que parece, como colocar placas nos pontos, e como ela pode sim ser possível, e muito positiva, nesse sistema de transporte com prioridade aos carros que nao precisa ser muito inteligente pra perceber que é completamente falho para o presente e o futuro.
Bicicletas públicas



Deixando reflexoes e voltando à vida boa antes de minhas aulas na Franca comecarem, eu, Lisa e Andreas - que há duas semanas iniciaram seus estudos em Antropologia Social e Psicologia, respectivamente, e durante esse tempo tiveram festas de ´calouro´ todos os dias, segundo os costumes universitários altamente etílicos daqui - fomos à sua cidade natal, Alesund, mais ao sul e no litoral norueguês. Passei horas na ida e na volta apreciando pela janela de ônibus as paisagens lindas desse país, que agora no verao é repleta de verde e azul, do céu, das águas e das florestas nas muitas montanhas. Alguns pontos brancos contrastavam - era neve ainda nos picos, que nem no verao completamente derrete, e segundo eles, ali em outubro já comecaria a nevar de novo. No caminho duas vezes atravessamos de balsa, que aqui sao muito comuns, pois tem ilhas em todos os lugares, e por isso, um número ainda maior de pontes.
Pedalando pela cidade toda - algo que nao levou muito tempo
Alesund presenciou um enorme incêndio no século passado, como Lisa me contou, e por isso grande área da cidade teve de ser reconstruída, dando a ela um estilo de casas muito único e bonito. Subimos numa colina para ter uma visao da cidade, que é em si uma ilha, e as outros ilhas e montanhas ao redor. Lá conheci muitos membros da família de Lisa e Andreas, alguns em áreas rurais do município, lugares realmente calmos e bonitos - há muitas casas no que acharíamos um ´meio do nada´. Foram extremamente receptivos, como mencionei, e aqui praticamente todos falam inglês, das mais variadas idades, pois aqui é ensinado com qualidade na escola desde muito cedo - nao notei diferenca no nível do idioma num cobrador de ônibus a um estudante universitário, e todos no geral estao dispostos a ajudar. Como me ocorreu ao andar de bicicleta e tentar, babaca, descer uma escadaria levantando-a. Uma mulher veio e me falou, em inglês, que havia um elevador para bicicletas (muito chique, cada vez me surpreendo com a tecnologia daqui hahaha) logo ao lado, e inclusive ajudou-me a carregar - situacoes similares presenciei no ônibus ou supermercado. Esse último, que por sinal, é consideravelmente caro para mim, tanto que nem tento pensar em reais senao vou ter um treco , mas pela enorme compreensao e gentileza de minha amiga nao tenho que gastar muito - como se já nao fosse ótimo eu já ter um teto nesse país onde hostels ou hotéis seriam caríssimos também. Em troca, além de perturbar seus estudos com conversas intermináveis atualizando fofocas de últimos três anos em meio a conversas intelectualizadas sobre nossas diferencas culturais, tenho cozinhado consideravelmente na casa dela...sobretudo nossos tao favoritos pratos indianos.

Já é noite aqui, e vou parar de abusar da boa vontade de meus anfitrioes. Boa noite, e talvez amanha continue a escrever, se alguém estiver interessado. Vou tentar ser menos cansativa, até uma próxima.
Cidade de Trondheim vista do rio Nidelva


* Corra atrás: http://www.udesc.br/?id=1174 . Sem falar que, se tiveres mais sorte que nós da História, tem o Ciência Sem Fronteiras.
** Estou agora usando o computador da Lisa - nao gosto de andar com meu netbook por aí por achar perigoso, ideia que fez ela rir alto, já que aqui isso seria impensável.




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