sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

MATE

Dilma - a única mulher que conhecia com esse nome, antes da atual presidenta, era a mãe de meu pai. Sua casa, a única da rua na qual em 1974, na enchente, não entrara água, era branca e de madeira. Sua casa não existe mais. Sua casa, num bairro operário de Tubarão, tinha dois quartos, um galinheiro e um portão pequeno no qual me pendurava. Do portão no fim de tarde via as bicicletas passarem de volta às suas casas. O portão hoje é alto e eletrônico. Na verdade, a casa ainda existe, em minha lembrança. Sua casa tinha cheiro de mate; o cheiro de mate faz existir de novo a casa, em minhas memórias - toda vez que o faço. Não havia ida a Vó Dilma sem o copo de mate, gelado, amargo e cítrico do limão. 
A receita, que veio a Dilma não sei como, passou pra minha mãe e depois pra mim. E nela passei minha adolescência, e minha vida atual, oferecendo mate gelado pra quem chegasse na minha casa. A reação mais comum é a de ódio - deve ser à falta de açúcar em minha cozinha. Outras, mais raras, amam. Mas não conheço uma pessoa sequer, tanto de Tubarão, tanto daqui, que faça o mesmo mate em casa. No geral, não é sabido que pode-se fazer a versão caseira daquela bebida vendidas em cafeterias/supermercados (nesses últimos com muito mais açúcar e conservantes). E é extremamente fácil (e barato, pois rende). Então, passo aqui a receita, pra quem quiser se arriscar, nesses dias quentes:


Mate com limão  

Compre uma caixinha de Matte Leão sem sabor. Custa de 3 a 8 reais, dependendo do tamanho e do mercado, e não, não vem em saquinhos. É a erva solta mesmo. 

Para uma jarra grande, ferva um litro e meio da água. Coloque na jarra* 4 colheres cheias, de sopa, da erva - um pouco mais ou menos se preferir mais ou menos forte, mas essa é a média - e jogue a água quente. Cubra e deixe descansar ali por aproximadamente 15 minutos. Coar é opcional, mas a maioria prefere - se não coado, ele fica mais forte com o tempo -, então se quiser, coe com uma peneira para outra jarra ou recipiente que tiver na cozinha. Adoce como quiser também - coloco 2 colheres de sopa de açúcar porque prefiro amargo; mas para ser algo próximo dos mates comercializados, umas 4. Ponha na geladeira até resfriar. Após, esprema um limão médio (e coe) e adicione ao mate. Pronto. Dura 3/4 dias na geladeira. 
- Mais limão também pode ser colocado, como quiser. Tem gente que guarda na geladeira o puro e só adiciona limão na hora de beber. Prefiro deixar pronto, mas experimente como quiser, afinal, é ridiculamente fácil.
Para a gambiarra do sabor pêssego, inventei em casa o seguinte: adiciono um saquinho de chá de pêssego à água fervente. 

*Jarra de vidro/metal, não plástico, por favor. Plásticos aquecidos liberam substância extremamente perigosas e cancerígenas. Estou com preguiça de pesquisar na internet a respeito, mas ---é sério---. Tente abolir também aquele copinho de plástico para café.

Mate tem cafeína! Então é maravilhoso também para acordar...bem mais prático e refrescante que café. Mas se és resistente a cafeína talvez não tanto, porque é consideravelmente menor em cafeína que café puro. 

O cheiro quando fica pronto é maravilhoso. Esse era o cheiro da casa de Dilma. 

  

Hoje o layout é outro, mas não achei na Internet









Fiquei muito feliz de ir a terras fluminenses e ver que lá também faziam o mate em casa, do mesmo modo. Se gostar, ajude a difundir esse gosto em SC :)


















  
In Memorian




PS.: Esse, ao lado de Dilma, é meu avô, Zedenir - nome que, diferentemente de Dilma continua a ser único para mim. Algum dia logo após de se casarem, em algum tempo ido dos anos 40, em Tubarão. 
PS2.: Vendo essa foto percebi que herdei o gosto em comum pelo batom escuro. Pena que esses dias cheguei na sala de aula e ouvi de uma criança curiosa, 'professora, sua boca está preta, o que houve?' :( 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Marianne

Para a continuar a tradição desta página, tenho que reclamar da minha própria falta de habilidade de manter postagens em dias e também de minha câmera. Que pifou de vez, e graças à burocracia e a gentileza de alguns neste país, não pode ser trocada e tive de ouvir que 'não é meu problema'. C'est la vie, como dizem.

Entristece-me um pouco pois estou com o hábito de tirar de fotos que não necessariamente sejam belas ou inovadoras, mas do cotidiano aqui, daquela grama que sentei pra escrever num raro dia de Sol, daquele campo que passei quando pedalava, de algo no meio da rua e por aí vai. Essencialmente desinteressantes. Não para postar em meu facebook e esperar curtidas, menos ainda para dar inveja em alguém por esse modo...com certeza meus amigos no Brasil têm muito mais Sol ou coisas mais interessantes (talvez apenas não os deem valor, por vezes). Mas para guardar, mesmo que de forma imperfeita, do que era viver aqui. A razão exata não sei. Pode ter a ver com nossas discussões de historiadores sobre a obsessão humana de relembrar. Ou pode, simplesmente, para balancear já as outras fotos por aí tiradas na frente da Torre Eiffel ou algum dos muitos lugares que por n razões todos querem ter uma foto na frente - mesmo que aquilo, na realidade, não faça sentido algum à pessoa -, já que tudo o que escolhemos fotografar, são bem, escolhas do que queremos um dia lembrar.

Esse devaneio quase historiográfico todo era só pra falar que queria ter fotografado - se tivesse uma câmera - há poucos minutos mesmo a aglomeração de gente na frente do correio - o único do bairro todo, do 'centro' dessa cidade pequena -, para o qual tenho vista da janela da minha casa. E é assim todos os dias, nos minutos que antecedem a abertura da agência, horário que varia todos os dias - algo também normal na França, assim como coisas abrirem no sábado mas não na segunda.
Mas por quê esse movimento nos correios? (enquanto no Brasil, pelo que me lembre, mesmo na maior agência da cidade, nunca esperei mais que 3 min. com a senha, ou em agências pequenas era até raro encontrar outra pessoa, nos meios das tardes como agora aqui)
Porque tudo, absolutamente tudo, tem que ser mandado por cartas. Queria cancelar uma conta num negócio que não funcionou ----porque faltou um documento na carta que mandei---; liguei e mandei e-mail, mas não, precisava de uma carta à mão dizendo que queria cancelar algo que nem tinha iniciado. Para a cidade do lado. Uma garota, no último dia de aula de uma disciplina, só enviou o trabalhinho pra professora via e-mail. Ela disse 'ok, te passo meu endereço e mandas por correio impresso'. Sério. Para começar uma conta no celular precisava enviar cartas. E por aí vai. Após alguns dias a morar aqui passei entender o que era aquela fila na frente de casa...ou porque nunca fiquei menos que 10 minutos numa fila, tanto aqui como em Paris, uma cidade que tem várias agências de correio por bairro.
Não que necessariamente reclame de tudo isso - é um fato da vida aqui que ninguém estranha, do que adiantaria eu reclamar. O ruim é que cartas não são tão baratas assim:  saudades 'carta social' do Brasil, que custa 1 centavo. Aqui nunca paguei menos que 80 centavos numa carta, mesmo pra cidade do lado. 80 centavos de euro=2,50 reais :(   Ou que tudo tenha uma burocracia exagerada - ter um cartão de ônibus demora quase um mês pra vir por correio; em Florianópolis, onde mesmo o transporte público não prestando, sai na hora -, sempre, que me faz até querer parar de reclamar da burocracia brasileira, que parece nada comparado. Tem as partes boas. Até que gosto de ir aos correios, mesmo nas filas, há sempre situações interessantes. E também dos selos, por mais que todos iguais que só mudam a cor: a Marianne, símbolo da República Francesa, com seu barrete frígio. Que está também em moedas, em prédios públicos, em toda a parte...outra discussão muito maior, sobre esses símbolos franceses que estão por tudo - talvez numa próxima quando deixar de ser preguiçosa de escrever aqui.  

Tinha que sair agora mesmo pra resolver burocracias. Mas o compromisso com está página semi-morta acabou de me prender. Vou-me então, após colar algumas Mariannes nas cartas a enviar...




Uma banda francesa que mesmo não tendo nada de tão espetacular que gostei muito após ter ido a um show na universidade. As fotos, a nostalgia, um clipe simpático com esse tema.