sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Marianne

Para a continuar a tradição desta página, tenho que reclamar da minha própria falta de habilidade de manter postagens em dias e também de minha câmera. Que pifou de vez, e graças à burocracia e a gentileza de alguns neste país, não pode ser trocada e tive de ouvir que 'não é meu problema'. C'est la vie, como dizem.

Entristece-me um pouco pois estou com o hábito de tirar de fotos que não necessariamente sejam belas ou inovadoras, mas do cotidiano aqui, daquela grama que sentei pra escrever num raro dia de Sol, daquele campo que passei quando pedalava, de algo no meio da rua e por aí vai. Essencialmente desinteressantes. Não para postar em meu facebook e esperar curtidas, menos ainda para dar inveja em alguém por esse modo...com certeza meus amigos no Brasil têm muito mais Sol ou coisas mais interessantes (talvez apenas não os deem valor, por vezes). Mas para guardar, mesmo que de forma imperfeita, do que era viver aqui. A razão exata não sei. Pode ter a ver com nossas discussões de historiadores sobre a obsessão humana de relembrar. Ou pode, simplesmente, para balancear já as outras fotos por aí tiradas na frente da Torre Eiffel ou algum dos muitos lugares que por n razões todos querem ter uma foto na frente - mesmo que aquilo, na realidade, não faça sentido algum à pessoa -, já que tudo o que escolhemos fotografar, são bem, escolhas do que queremos um dia lembrar.

Esse devaneio quase historiográfico todo era só pra falar que queria ter fotografado - se tivesse uma câmera - há poucos minutos mesmo a aglomeração de gente na frente do correio - o único do bairro todo, do 'centro' dessa cidade pequena -, para o qual tenho vista da janela da minha casa. E é assim todos os dias, nos minutos que antecedem a abertura da agência, horário que varia todos os dias - algo também normal na França, assim como coisas abrirem no sábado mas não na segunda.
Mas por quê esse movimento nos correios? (enquanto no Brasil, pelo que me lembre, mesmo na maior agência da cidade, nunca esperei mais que 3 min. com a senha, ou em agências pequenas era até raro encontrar outra pessoa, nos meios das tardes como agora aqui)
Porque tudo, absolutamente tudo, tem que ser mandado por cartas. Queria cancelar uma conta num negócio que não funcionou ----porque faltou um documento na carta que mandei---; liguei e mandei e-mail, mas não, precisava de uma carta à mão dizendo que queria cancelar algo que nem tinha iniciado. Para a cidade do lado. Uma garota, no último dia de aula de uma disciplina, só enviou o trabalhinho pra professora via e-mail. Ela disse 'ok, te passo meu endereço e mandas por correio impresso'. Sério. Para começar uma conta no celular precisava enviar cartas. E por aí vai. Após alguns dias a morar aqui passei entender o que era aquela fila na frente de casa...ou porque nunca fiquei menos que 10 minutos numa fila, tanto aqui como em Paris, uma cidade que tem várias agências de correio por bairro.
Não que necessariamente reclame de tudo isso - é um fato da vida aqui que ninguém estranha, do que adiantaria eu reclamar. O ruim é que cartas não são tão baratas assim:  saudades 'carta social' do Brasil, que custa 1 centavo. Aqui nunca paguei menos que 80 centavos numa carta, mesmo pra cidade do lado. 80 centavos de euro=2,50 reais :(   Ou que tudo tenha uma burocracia exagerada - ter um cartão de ônibus demora quase um mês pra vir por correio; em Florianópolis, onde mesmo o transporte público não prestando, sai na hora -, sempre, que me faz até querer parar de reclamar da burocracia brasileira, que parece nada comparado. Tem as partes boas. Até que gosto de ir aos correios, mesmo nas filas, há sempre situações interessantes. E também dos selos, por mais que todos iguais que só mudam a cor: a Marianne, símbolo da República Francesa, com seu barrete frígio. Que está também em moedas, em prédios públicos, em toda a parte...outra discussão muito maior, sobre esses símbolos franceses que estão por tudo - talvez numa próxima quando deixar de ser preguiçosa de escrever aqui.  

Tinha que sair agora mesmo pra resolver burocracias. Mas o compromisso com está página semi-morta acabou de me prender. Vou-me então, após colar algumas Mariannes nas cartas a enviar...




Uma banda francesa que mesmo não tendo nada de tão espetacular que gostei muito após ter ido a um show na universidade. As fotos, a nostalgia, um clipe simpático com esse tema.

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